A Família e os Pilares da Vida

O ESPELHO DA VIDA E A IMAGEM DO REINO

Queremos ser espelho, mas nem sempre nos olhamos profundamente nele.

Nosso olhar quase sempre é para sanar algum problema de aparência, descobrir uma necessidade de maquiagem, mas com pouca profundidade. Não estaríamos a fazer o mesmo com a  nossa prática religiosa dentro das casas?

E por falar em superficialidade, esse tem sido um grande mal em nosso tempo:
– Vivemos afogados e ensimesmados pelo excesso de “selfies” em detrimento de conteúdo;  
– Comportamo-nos como narcisistas (indivíduos com excesso de amor por si ou por sua própria imagem – uma referência ao mito de Narciso – ao verem no espelho d’água nele se jogam e, não sabendo nadar, morrem afogados);
– Não resistimos passar ao lado do lago das aparências e logo nos perdemos nas exterioridades enganosas, nas ilusões (erros de percepção ou de entendimento) que as aparências podem nos levar.

Olhar no espelho da vida não é apenas ver a própria imagem, marcas de expressão, pintas, rugas, etc., com o fito de cobrir tudo isso com algum cosmético, mas procurar aquilo que nos dá sentido para levar o Reino para dentro do lar.

A maquiagem cada vez mais promove melhorias na imagem das pessoas, mas pode estar também apenas escondendo defeitos.

Maquiagem não resiste às lágrimas e tempestades da vida, nem nos faz mais fortes para vencer as adversidades. Só a fé como adesão incondicional a uma verdade nos possibilita isso.

Podemos, sim, melhorar nossa aparência ao maquiar nosso rosto, ter todo o tipo de cuidado com o nosso corpo, desde que mantenhamos a firme busca da verdade daquilo que está sob nossa pele.

Olhar-se no espelho da vida é penetrar no fundo do próprio ser, no recôndito da nossa alma e entregar a Deus nossas profundas intenções. Todavia, a impressão que temos é que a fé de muitas pessoas se tornou uma espécie de cosmético para manter as aparências, e não caridade que mostra e doa a vida em sua essência.

Eu não posso olhar o espelho por você, assim como não posso ter fé por você, ou mudar sua imagem por você. Posso, sim, orar para você e emprestar-lhe um espelho físico, porém, o mergulho profundo no infinito do espírito apenas uma pessoa pode fazer: você!

O que temos refletido às pessoas de nossa casa, aquelas que nos veem e ouvem dia após dia?

Tenhamos uma conversa franca com Deus, tomemos uma atitude de fé e decidamos ser os melhores espelhos possíveis por onde passarmos.

Paremos de propagar as aparências que não fazem parte daquilo que é o mais central, a mais importante característica do nosso ser, nas entranhas da vida e levemos o amor na dimensão pessoal, conjugal, e o carácter espiritual que nos faz nascer de novo em cada lar.

Cumpramos o nosso sim e comprometemo-nos com o Deus da Vida a cumprirmos o nosso propósito dentro do lar, pois, “aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência.”(Tg 1,23-25).

Havemos de refletir nosso exemplo e permitir que nossa imagem sirva de luz familiar a quem convivemos, ainda mais numa época de tantos ataques e tentativas de desconstrução das famílias.

Coloquemos espelhos para reinventar os espaços do lar e refletir o amor presente no lar.

Olhemos no espelho para ver em nosso interior a imagem do amor, fazendo reinar a alegria de viver que alivia e elimina a dor.

Os espelhos ampliam os espaços e as visões dos ambientes, assim como nossa imagem amplia o legado (mais que herança) que podemos deixar às novas gerações. Os sentimentos que eles nos revelam são expressos através do olhar, do corpo, dos climas, das feições que expressamos. Portanto, olhe-se e diga a você o quanto você é importante para a sua família. Em sentido estrito, você é um ser humano que serve de exemplo de comportamento para outros.

Você sempre tem a chance de se deixar ofuscar a visão da vida que existe em você, ou fazer com que alguém reflita um pouco do seu bom ser e “assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5,16)

Seu espelho interior vai lhe proporcionar algumas indagações e até respostas que, por certo, o auxiliarão na leitura da sua vida e na propagação de imagens que sirvam para, perseverantemente, fortalecer, restaurar e edificar o lar de quem necessitar.

Ainor Francisco Lotério
Natural de Vidal Ramos/SC, é engenheiro agrônomo, palestrante, psicopedagogo, M.Sc, acadêmico de teologia e aluno da Escola Diaconal São Francisco de Assis. Autor do livro: Pais Frouxos, Filhos Sofredores, Pais Firmes, Filhos Felizes, é também ministro da Palavra junto à Paróquia Divino Espírito Santo, em Camboriú/SC.

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